Policiais civis da Delegacia de Roubo e Furtos de Automóveis (DRFA) e da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) realizaram, nesta sexta-feira (23/05), uma operação contra integrantes de uma organização criminosa estruturada que fomentou o aumento expressivo nos índices de roubo de veículos no Estado do Rio de Janeiro. Segundo investigado, o grupo promovia "pagamento de resgate" de veículos produto de roubo e furto.
Foram cumpridos mandados de busca e apreensão contra sócios e funcionários dessas empresas, com o objetivo de apreender celulares, computadores e documentos que comprovem a participação no esquema, além de identificar os responsáveis, do lado dos criminosos, pelas negociações.
O inquérito revelou que empresas recuperadoras de veículos, conhecidas como "pronta resposta" ou "pronto emprego", contratadas por associações e cooperativas de proteção veicular, negociavam diretamente com roubadores, traficantes e receptadores o pagamento de valores para a devolução dos veículos. O objetivo desse esquema é evitar que essas associações precisem indenizar seus clientes com base na tabela Fipe. Foi possível comprovar que esse modelo impactou diretamente no aumento do número de roubos de veículos ocorridos no segundo semestre do ano passado e nos dois primeiros meses deste ano em todo o Estado do Rio de Janeiro, principalmente na capital e na Baixada Fluminense.
O esquema criminoso envolveu cifras milionárias. As investigações demonstraram que quatro empresas receberam, de apenas duas associações, mais de R$ 11 milhões em menos de um ano. Nesse mesmo tempo, só por essas empresas, mais de 1,6 mil veículos foram recuperados.
Chama a atenção também o ínfimo tempo decorrido entre a data do roubo e a data da recuperação que, em algumas empresas, em média, é de apenas quatro dias.
Como funcionava o esquema?
Quando um veículo protegido por uma associação ou cooperativa era roubado, os funcionários dessas empresas de “pronta resposta” entravam em contato diretamente com criminosos, traficantes ou roubadores para negociar a devolução. Esse contato, muitas vezes, era feito dentro das próprias comunidades dominadas por facções. Para os criminosos, trata-se de uma forma rápida, segura e altamente rentável de obter dinheiro. O mesmo vale para essas empresas, pois, em média, foram pagos mais de R$ 6 mil por veículo recuperado, sendo que uma parte desses valores era pago pelo resgate e boa parte ficava para a empresa.
As investigações continuarão a fim de desvendar todo o esquema.
A ação faz parte da segunda fase da “Operação Torniquete”, que tem como objetivo reprimir roubo, furto e receptação de cargas e de veículos, delitos que financiam as atividades das facções criminosas, suas disputas territoriais e ainda garantem pagamentos a familiares de faccionados, estejam eles detidos ou em liberdade. Desde setembro de 2024, já são mais de 520 presos, além de veículos e cargas recuperados, avaliados em cerca de R$ 37 milhões. As ações incluem ainda o bloqueio de mais de R$ 70 milhões em bens e valores.